Em tempos de crise feito essa pandemia que estamos vivenciando, as empresas costumam apresentar dificuldades em quitar seus compromissos de curto prazo, seja pela queda na receita representada pelo deficit no número de produtos vendidos ou serviços prestados ou ainda, pela inadimplência.

Nesse sentido, um indicador contábil importante é a Liquidez Corrente.

Liquidez Corrente pode ser entendida como a capacidade de uma empresa honrar seus compromissos de curto prazo. Em termos matemáticos, é calculada da seguinte maneira:

Liquidez Corrente (LC) = Ativo Circulante / Passivo Circulante

Onde:

Ativo Circulante = contas a receber, estoque, caixa e etc.

Passivo Circulante = empréstimos, financiamentos, folha de pagamento, fornecedores e etc.

De posse do resultado obtido, podemos fazer a seguinte análise:

LC > 1 = Demonstra folga diante de uma possível liquidação das dívidas de curto prazo.

LC = 1 = Equivalência, ou seja, consegue cumprir suas obrigações de curto prazo, porém sem folga.

LC < 1 = Sem condições de quitar dívidas de curto prazo, teria que recorrer à empréstimos ou financiamentos, podendo comprometer ainda mais a saúde financeira da empresa.

Nesse sentido, fiz um estudo onde selecionei as principais empresas listadas na B3 cujo LC é maior do que 1, retirei as empresas com lucro líquido negativo e considerei aquelas com liquidez diária média de R$ 200.000, segue abaixo: 

                                            Fonte: Status Invest.

Existem outras dezenas de empresas com LC acima de 1, mas para não deixar o estudo tão extenso, me limitei às 30 primeiras da lista.

Além da LC precisamos entender qual o setor que a empresa está inserida, qual a sua margem líquida, se possui uma dívida alta e etc.

Destaquei algumas empresas de setores distintos para análise:
  • Consumo cíclico (Vestuário, Calçados): É um setor que já vem sendo prejudicado pela crise devido as medidas de isolamento social. Aqui temos representado a Grendene (GRDN3), Lojas Hering (HGTX) e a Vulcabrás (VULC3) fabricantes de calçados. As 3 empresas praticamente não possuem dívidas, possui uma boa LC, entretanto estão inseridas num setor que opera com margem líquida baixa, exceto a GRDN3 que possui uma margem líquida acima de 20%. Não sou entusiasta do setor, mas analisando friamente os números dificilmente essas empresas quebrarão no curto prazo.
  • Construção Civil: É um setor totalmente cíclico, apesar da taxa de juros estar no seu menor patamar e que em tese favoreceria esse segmento, a tendência é que ocorra uma desaceleração desse mercado. Eztec (EZTC3), Trisul (TRIS3), Tenda (TEND3), MRV (MRVE3) estão aqui representadas. Destaque para a EZTEC3 que possui um perfil de empreendimento voltado pra alta renda, operando com margem líquida excelente de quase 40%, sem dívidas e com alta liquidez corrente (6,18). 
  • Gás e Combustível: Representando pela Ultrapar (UGPA4), que possui uma margem líquida baixíssima, com uma dívida razoável, porém apresenta um certo fôlego dado sua liquidez corrente. Por estar num setor considerado essencial, acredito que a empresa conseguirá suportar essa crise, mas é preciso ter diligência nos custos para não sacrificar ainda mais sua margem de lucro.
  • Energia Elétrica: As empresas aqui selecionadas, Taesa e Alupar (ALUP11) estão no melhor subsetor de energia elétrica que é o de transmissão. Percebam a margem líquida absurda da Taesa (TAEE3/TAAE4) acima de 50%. Apesar de possuir uma dívida líquida / patrimônio líquido acima de 1, o seu perfil de dívida é controlado, dado que são dívidas de longo prazo e a empresa consegue quitar devido sua forte geração de caixa. Acredito que seja o setor que menos irá sofrer nessa crise, pois as empresas possuem uma receita previsível.
  • Bancos: Não consegui extrair os dados do Itaú e Santander, entretanto Bradesco e Banco do Brasil apresentaram LC abaixo de 1. Apesar disso, acredito que a liquidez corrente dos Bancos esteja num patamar favorável, uma vez que todos esses, exceto o Santander, fizeram provisões bilionárias contra possível inadimplência por parte dos clientes em decorrência da pandemia.
Conclusão

Na análise fundamentalista de empresas, analisar apenas um indicador pode ser perigoso. Em nosso estudo apresentado, por exemplo, foi retirado as empresas com lucro líquido negativo da análise, justamente para ressaltar que ter uma LC razoável não basta, afinal, uma empresa que só gera prejuízos a tendência é que sua dívida aumente ao longo do tempo e inevitavelmente, ela terá que queimar caixa e patrimônio para tentar se salvar, podendo chegar à falência.

Por isso que eu procuro sempre frisar a importância de analisar uma empresa como um todo, ou seja, o setor que está inserida, como ela ganha dinheiro, qual a sua margem de lucro líquido, sua capacidade de geração de caixa e etc. 

O intuito do post é mostrar que mesmo na crise e queda nas vendas e lucros, boas empresas podem sobreviver graças à sua LC. Mesmo que a empresa tenha trimestrais ruins, o que será comum até o final do ano (ou até mais, não sabemos) a empresa não deixará de ser boa. Portanto, você investidor, não saia vendendo suas ações desesperado achando que a empresa vai quebrar, se você investiu nessa empresa é porque acredita na sua gestão, então tenha paciência.