Saudações, amigos investidores!

No dia 29/04 o Banco Bradesco divulgou seus resultados e por conta da véspera de feriado e fechamento do mês de Abril, não consegui fazer a análise de imediato.

Aproveitando que a BB Seguridade soltou seus resultados no dia de ontem 04/05, venho trazer as análises de ambas as empresas na qual sou sócio. Pretendo ser bastante sucinto, destacando as variáveis principais de cada negócio e deixando minhas considerações acerca de cada empresa.

  • Banco Bradesco (BBDC3,BBD4)
                                          Fonte: RI Banco Bradesco, release de resultados.

Num primeiro instante, o resultado parece preocupante (o mercado não reagiu bem), ou seja, o segundo maior banco privado do país reportar queda de 43,5% no trimestre e 39,8% comparado ao mesmo período do ano anterior. 

Contudo, essa queda pode ser justificada pelo conservadorismo do banco nesse momento de pandemia, onde antevendo um aumento de inadimplência nos próximos meses, estabeleceu uma provisão, também chamado de PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) recorde total de 5,1 bilhões de reais, sendo provisão complementar em Março de R$ 2,5 Bi.

                                           Fonte: RI Banco Bradesco, release de resultados.

Um aspecto positivo foi o aumento de 5,1% da carteira de crédito do banco. Nesse momento de dificuldade, tanto PF e PJ recorrem ao crédito. Isso é uma faca de dois gumes, afinal, aumentar a carteira de crédito é importante pois além do crédito em si você cria um relacionamento com o cliente ao longo do tempo, podendo ofertar outros produtos e serviços, gerando assim mais receita para o banco. Por outro lado, o Banco Bradesco é conhecido por ser menos rígido na análise do requerente ao crédito, ao contrário do Itaú, por exemplo. Sendo assim, a probabilidade do aumento da inadimplência e, associado à pandemia, se torna ainda mais latente. Os primeiros reflexos já foram sentidos, onde a inadimplência subiu 3,7% nos últimos 90 dias.

                                           Fonte: RI Banco Bradesco, release de resultados.

Sendo o Lucro líquido 3.753 e a provisão de 2.500, somando esses valores chegamos ao resultado de R$ 6.253 Bi, próximo do resultado do 4T2019 que foi de R$ 6.645 Bi. Portanto, não considero o resultado de todo desastroso, caso a situação da pandemia seja resolvida nos próximos trimestres e consequentemente a situação econômica também melhore, a inadimplência pode não ser tão alta à ponto de ter que recorrer aos R$ 2,5 Bi provisionados e com isso, esse valor pode retornar ao caixa sob a forma de lucros. Óbviamente que se trata de uma hipótese positiva, eu como acionista iria adorar ver esse valor retornando ao caixa e sendo distribuído como proventos, mas ninguém sabe como serão os próximos meses.

Enfim, o que me agradou nesse balanço foi a transparência do banco em divulgar essa provisão, sob pena de "sangrar o lucro" nesse primeiro momento, ponto positivo pra gestão, independente se o mercado reagir de forma negativa no curto prazo, é a robustez do banco e o seu futuro que está em jogo. Ao contrário do Santander, por exemplo, que não provisionou nada e distribuiu todo o lucro em forma de dividendos para socorrer a matriz espanhola. Por mais que eu seja um entusiasta de dividendos, nesta situação fica clara como cada banco possui uma gestão de riscos e o motivo da minha predileção pelo Bradesco.

  • BB Seguridade (BBSE3)
                                         Fonte: RI BB Seguridade, release de resultados.

Lembrando que as fontes de receita da BB Seguridade são provenientes de 4 vértices: BrasilSeg, BrasilCap, BrasilPrev e BB Corretora.

Alguns motivos para a queda no lucro líquido (-12,9%): 
  • influência da marcação à mercado dos títulos nos planos de previdência da BrasilPrev, cuja maioria são indexados ao IGP-M. Com a alta da inflação no mês de Dezembro, acabou afetando o resultado.
  • queda do resultado da BrasilSeg explicada pela retração da taxa média da Selic e por menores ganhos na alienação de títulos públicos classificados como disponível para venda. Lembrando que boa parte do resultado das seguradoras são provenientes de aplicações financeiras, uma vez que eles recebem do segurado antes mesmo de cobrir um sinistro, então para o dinheiro não ficar parado no caixa ele é alocado em algum título público ou privado. 
  • alienação da participação no IRB Brasil em julho de 2019.
  • Aumento no número de resgates de Previdência Privada em 9,4%. Como as pessoas estão em busca de liquidez para sobreviver nessa pandemia, justificando-se assim esses resgates.
  • Arrecadação com títulos de capitalização recuou 16,2%, natural num período de crise as pessoas evitarem esse tipo de aplicação.
Pontos positivos:
  • Crescimento de 15,9% de prêmios emitidos: Destaque para o seguro rural com crescimento de 31,3%, impulsionado pela antecipação do Banco do Brasil para o plano Safra 2020/2021 e pelo plano prestamista, que avançou 30% neste trimestre.
  • Queda da sinistralidade em -7,4%.
  • Crescimento em 25% nos Planos de Previdência: em meio ao caos muitas pessoas ainda pensam no futuro, em como passariam por outra crise sem uma renda, então acabam procurando esse tipo de investimento.
  • Captação líquida cresceu 71,7%, enquanto o volume de reservas expandiu 9%.
  • Resultado financeiro evoluiu 6,8% em razão principalmente da redução de despesa com taxa de administração.
A queda no lucro era algo esperado, porém não foi tão significativa assim. Boa parte da queda nos lucros não ocorreu em virtude da pandemia e sim em função do comportamento da taxa de juros e inflação, provocando descasamento entre ativos e passivos da empresa.

Os primeiros efeitos da pandemia foram sentidos a partida da segunda quinzena de março, onde o faturamento foi afetado. A venda de alguns seguros sofreram recuo como seguro de vida (quase 5%) e títulos de capitalização, além do aumento no número de resgates da previdência privada, conforme citado anteriormente.

O desafio agora fica por conta da gestão de vendas, pois apesar do home-office, não pode haver afrouxamento na prospecção de novos segurados, acredito que esse deve ser o foco para empresa continuar gerando caixa.

Sigo "seguro" como acionista dessa empresa de seguros (risos). Uma empresa com faturamento próximo de 1 Bi, resultado operacional próximo de 95%, excelente margem líquida acima de 50%, com caixa e expertise de mercado, certamente vai passar por essa crise.