Além do caos na saúde pública, o efeito Coronavírus carrega consigo diversos prejuízos econômicos sobretudo após as medidas de isolamento social (não vou entrar no mérito se essa ação é assertiva ou não, pois o mesmo provoca discussões ad eternum), restringindo a análise apenas ao impacto que esse vírus pode trazer para a economia de um modo geral, sobretudo sobre as empresas listadas na B3.

No Estado de SP, por exemplo, a quarentena teve início oficialmente a partir do dia 24/03/2020 onde determinava que estabelecimentos comerciais que não estivessem entre os serviços essenciais de alimentação, saúde, abastecimento, limpeza urbana, segurança pública e bancos, deveriam ser fechados. Além de SP, outros Estados, capitais e municípios impuseram decretos no sentido de limitar a circulação das pessoas, provocando o distanciamento social, o que, em tese, reduz o risco de contágio.

Contudo, essa é uma situação delicada e como se diz muito no interior "Com esse cobertor, você cobre a cabeça e descobre os pés". Ou seja, você precisa resolver um problema grave que envolve a saúde pública e acaba gerando um outro problema de igual, ou maior dimensão: aumento do desemprego, falência de pequenas e médias empresas, redução do PIB, diminuição de investimentos por parte das empresas visando preservar o caixa, enfim é um efeito cascata englobando tanto organizações quanto a sociedade.

Com efeito, diversos setores da nossa economia acabam afetados: comércio em geral (lojas de roupas e eletroeletrônicos, academias, consultórios, salões de beleza, bares, restaurantes, boates e etc), setor aéreo, turismo, hotelaria, montadoras de veículos, locadoras de veículos e etc. 

Por outro lado, existem setores mais resilientes (bancos, energia elétrica, saneamento básico,saúde, seguros e etc) que devido sua forte geração de caixa, costumam suportar as crises com mais facilidade. Porém, podem  também enfrentar dificuldades. Os bancos, por exemplo, certamente terão índices de inadimplência aumentados nessa crise, setor elétrico pode sofrer sanções do Governo nas tarifas (isenção ou postergação) de energia elétrica afetando desse modo o faturamento, o mesmo vale para as companhias de Saneamento que majoritariamente são controladas pelo Estado.

E por que as empresas deixariam de pagar dividendos nesse período?

É simples - os dividendos são oriundos dos lucros das empresas, então se há redução ou previsão de queda nos lucros a tendência é que a distribuição de dividendos também seja afetada.

Obviamente que essa decisão depende unicamente da gestão de cada empresa, ou seja, determinada empresa pode optar por preservar seu caixa nessa crise enquanto outras podem efetuar a distribuição de dividendos pois já possuem um caixa robusto.

Empresas que já suspenderam ou diminuíram os dividendos

Energias do Brasil (ENBR3): Decidiu reduzir dividendos para preservar  o caixa em meio à crise do Coronavírus. Havia sido proposto a distribuição de 604 milhões relativos ao exercício de 2019 e esse valor foi reduzido para 353 milhões, isto é, a distribuição será de cerca de 27,8% do lucro líquido ante 47% proposto anteriormente.

Bancos (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil, Banrisul, ABC, etc): O Conselho Monetário Nacional (CMN) vedou, temporariamente, o aumento na distribuição de dividendos pelos bancos como parte das medidas adotadas pelo Banco Central para enfrentar a crise do coronavírus. As vedações serão aplicadas aos pagamentos referentes às datas-bases compreendidas em Abril e 30 de setembro de 2020 e pagamentos a serem realizados durante a vigência da norma.

Petrobrás (PETR3,PETR4): Cancelou todas as datas de pagamentos referente ao exercício de 2019, totalizando R$ 1,7 bilhão.

Fundos Imobiliários: O segmento mais afetado até o momento é o de Shoppings, devido ao fechamento dos mesmos. Alguns fundos já comunicaram o cancelamento de dividendos como o XPML11. Outros segmentos poderão sofrer com inadimplência, como é o caso dos Galpões Logísticos e Lajes Coorporativas, porém até o momento não houve comunicado sobre suspensão ou redução de dividendos.

Lembrando que teremos uma dimensão maior dos impactos da pandemia na divulgação dos resultados do 1T2020 e 2T2020, então é importante estar atento aos balanços das empresas.

Conclusão

Da mesma forma que nós, investidores, estamos tendo que rever nossos gastos, orçamento doméstico, possibilidade de conviver com a redução de salário ou até demissão, as empresas estão enfrentando dificuldades por conta dessa pandemia.

Obviamente que para o investidor que visa renda passiva é péssimo conviver com reajustes e cortes nos dividendos. Contudo, isso é passageiro, assim esperamos, quando tudo isso passar certamente as empresas retomaram a distribuição como de costume, sobretudo empresas robustas inseridas em setores perenes.

Se essas empresas passarem pela crise sem precisar utilizar o caixa ou não houver queda significativa nos lucros, isso será incorporado aos dividendos, o repasse ao acionista pode ocorrer futuramente, ou seja, em algum momento é inevitável.

Ao investidor iniciante, não venda suas ações, continue seguindo o plano de aportar mensalmente e internalizando o sentimento de sócio das empresas que você investe. Se tiver que reduzir o aporte que o faça, mesmo que seja na Renda Fixa para aumentar o caixa ou Reserva de Emergência, mas continue aportando.

Stay Hard!

Fonte:
https://www.sunoresearch.com.br/noticias/fundos-imobiliarios-suspendem-pagamento-dividendos/
https://br.investing.com/news/stock-market-news/itau-unibanco-confirma-doacao-de-r1-bi-para-combate-a-coronavirus-737221
https://br.investing.com/news/stock-market-news/aneel-suspende-por-90-dias-reajuste-tarifario-de-distribuidoras-da-energisa-e-cpfl-736189
https://www.moneytimes.com.br/petrobras-cancela-datas-de-pagamentos-de-dividendos/
https://www.moneytimes.com.br/iguatemi-conselho-cancela-assembleia-e-pede-revisao-da-proposta-de-distribuicao-de-dividendos/
https://br.investing.com/news/stock-market-news/bc-veda-distribuicao-de-dividendos-dos-bancos-e-aumento-de-remuneracao-em-meio-a-crise-735496